quarta-feira, 16 de abril de 2014

Rico ou pobre? Eis a questão.



       Resolvi voltar às origens e comecei a assistir a um drama taiwanês chamado Office Girls que me fez atentar para um dos principais fatores que atraem público para essas novelas, sejam coreanas, taiwanesas, japonesas ou chinesas.  Alguém tem um palpite? Não é muito difícil de adivinhar. O fator crucial é dinheiro. Quantos dramas de sucesso você já viu em que pelo menos um dos protagonistas era rico? E quantos você já viu em que ambos eram pobres? Pois é, faça as contas e responda nos comentários.
       Praticamente não há dramas em que ambos os protagonistas sejam pobres ou classe média e os que existem raramente focam nas dificuldades financeiras. Exceção à regra seria um drama taiwanês chamado Love Or Bread que parecia ter a fórmula para o sucesso ao reunir o casal responsável pelo sucesso de It Started With A Kiss e They Kiss Again. No entanto, a história foca na pobreza dos dois protagonistas. Nem preciso dizer que foi um fracasso. Toda a química e a magia de ArJoe (Ariel Lin e Joe Cheng) foi para o espaço em poucos episódios. Como pode dois atores que nos conquistaram em um drama perderem toda a química no drama seguinte? A resposta é simples: falta de dinheiro.
      O que o público asiático quer ver é um mundo ao qual ele não tem acesso. A minoria da população tem dinheiro? Então vamos colocar milionários na história e fazê-los se apaixonar pela protagonista. Isso atrai o público, porque os homens queriam ser aquele cara bem-sucedido e rico e as mulheres têm seus sonhos de encontrar o príncipe encantado realizados pela protagonista.


       Claro que também existem séries sobre classe média, mas nelas é notável a falta de menção a dinheiro. Normalmente, nesses casos, os autores focam em dramas pessoais, vida de estudante, doença, mas raramente em grana. Esse é o tipo de história com o qual a classe média poderá se identificar sem precisar se preocupar com dinheiro.
        Dramas em que os dois protagonistas são realmente pobres, no entanto, são muito mais raros e, quando produzidos, só fazem sucesso se não focarem na falta de grana. O público asiático não quer ver a realidade retratada na telinha, porque isso ele já vê em seu cotidiano. Vale lembrar que, em muitos desses países, não há aposentadoria e as leis trabalhistas são muito limitadas, deixando na miséria idosos sem família para sustentá-los e jovens que terão que trabalhar muitos anos para subir na carreira. Por isso, não é de se admirar que ninguém queira ver pobreza num drama a não ser que a pessoa miserável seja salva por um príncipe encantado. Como já citado, Love Or Bread é um drama que aborda dificuldade financeira, mas, como esperado, não fez sucesso. Outra exceção à regra seria o kdrama Heartless City que trata de temas como drogas e prostituição e cujos protagonistas eram órfãos e pobres, mas a história focou mais nas lutas entre gangues do que na pobreza ou na degradação humana. Portanto, é mais um drama de ação como tantos outros anteriores do que uma história que busca ser verossímil.
        Aqui no ocidente, muita gente prefere ver novelas e séries que retratem a realidade, com pobreza, sexo e violência. Essas são histórias muitas vezes mal escritas, mas que, apenas por serem verossímeis, são consideradas excelentes. Quantos filmes, embora nojentos e traumatizantes, retratam a realidade e, por isso, já ganharam até Oscar? Quantas novelas da Globo com seus personagens miseráveis e escrachados não são endeusadas? Pois na Ásia nada disso faz ou faria sucesso, pelo menos não entre o público em geral. Claro que sempre há os chamados “cult” ou, como eu gosto de chamar, “do contra” em qualquer país e, para eles, essas histórias são pratos cheios.
          Não é apenas na Ásia, no entanto, que pessoas buscam realizar seus sonhos e fantasias por meio de filmes e séries. Não é surpresa, portanto, que séries americanas fantasiosas e/ou românticas façam tanto sucesso nem que filmes de comédia romântica conquistem os corações de mulheres jovens e adultas. No entanto, a moda de “histórias que retratam a realidade” pegou e, cada vez mais, vemos filmes e séries com temas mais “maduros”. Entenda-se por “tema maduro” abuso de drogas, autodestruição, sexo e doenças sexualmente transmissíveis, o que, diga-se de passagem, não tem nada de maduro.
        No fim das contas, o Oriente está mais bem servido de séries e filmes agradáveis do que o Ocidente e seria muito interessante se os ocidentais se espelhassem neles. É verdade que lá a maior parte das séries é um conto de fadas e que pobreza não faz sucesso, mas seria isso tão ruim assim? Não podemos ter os dois gêneros? Por que um é considerado pior do que o outro dependendo de em que lado do planeta se vive? A verdade é que esses gêneros podem e devem coexistir.

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