quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os podres da indústria musical coreana

     Após ler a recente entrevista de Brad Moore, baterista da banda indie Busker Busker, resolvi escrever sobre o lado negro do cenário musical coreano. Vocês podem ler a entrevista na íntegra, em inglês, nesse link: http://noisey.vice.com/blog/great-white-hope-how-bradley-ray-moore-accidentally-conquered-k-pop
     Na entrevista, basicamente, Brad revela como ele foi parar numa banda com integrantes pouco experientes musicalmente, inclusive ele próprio, e, logo em seu primeiro ensaio, convidado para participar do Superstar K com a Busker Busker. Sem estar acostumado com a indústria coreana, ele conta como a experiência foi terrivelmente cansativa e programada nos mínimos detalhes. O vencedor, Ulala Session (Alô, fãs de Ulala?), já estava decidido. Busker Busker fora chamada ao programa por ser uma banda diferente, mas desde o início  foi considerada pelos produtores do programa como material não rentável, sendo logo eliminada. No fim das contas, a banda fez um enorme sucesso entre o público, que exigiu seu retorno ao Superstar K. Chegaram à final, passando por cima de várias regras da indústria e acabaram assinando um contrato de apenas 6 meses com a CJ E&M, que esperava que o sucesso deles fosse passageiro. Não foi o que aconteceu e, hoje, a banda encontra-se consolidada no cenário musical, fazendo muito mais sucesso, na Coréia, do que a maioria das bandas de kpop. 
     Busker Busker pode ser considerada uma banda de sorte, porque, mesmo sendo um "produto não rentável", estourou entre o público coreano. Claro que isso se deve a diversos fatores, como a qualidade musical, a diversidade trazida pela presença de um estrangeiro, o som diferente e o cansaço do público perante a mesmice do kpop. Tudo isso somado fez com que a banda ficasse famosa entre fãs e não fãs de kpop. 
     A longa entrevista do baterista mostra como a indústria do kpop já controla praticamente todos os setores musicais, inclusive o rock e o indie, ditando inclusive sua moda, como relata Brad, citando momentos em que os enchiam de maquiagem e tiveram até mesmo que fazer aplicações de Botox. Tudo pelo bem do programa. Outro detalhe que chama a atenção é como já estava decidido o vencedor do Superstar K. Sabemos que isso acontece em reality shows pelo mundo todo, mas ouvir isso sobre o suposto perfeito cenário musical coreano é, no mínimo, decepcionante. Além disso, as poucas oportunidades dadas a outros estilos como o rock e o indie prejudicam a diversidade musical. 
     E, no cenário do kpop propriamente dito, podemos apontar os diversos problemas que já conhecemos, como as políticas anti-namoro, as cirurgias plásticas para criar a face ideal, a valorização da aparência em detrimento de outros fatores, o regime militar das agências, competição entre membros de uma mesma banda, bullying etc. 
     Aliás, recentemente, vários casais se revelaram, como Soyeon (T-Ara) e Oh Jong Hyuk (Click B), que admitiram estar namorando há 3 anos, sem ninguém notar. Vários casais de atores também têm se revelado, mas o grande tabu ainda permanece sendo os relacionamentos amorosos no caso dos idols. Tirando o Won Bin, o grande público não parece se importar muito quando atores revelam que estão juntos, principalmente se forem atores do mesmo nível, ou seja, com o mesmo status. Imagine se Lee Byung Hun tivesse revelado que namorava Lee Min Jung quando ela ainda era uma atriz novata. Com certeza, teria sido o fim da carreira dela antes mesmo de começar. Agora, ela já tem status suficiente para ser "aceita" como namorada dele pela maioria do público.
     E as cirurgias plásticas? É uma regra básica! Quer entrar pra indústria? Faça cirurgia. A não ser que a pessoa tenha a sorte de nascer com a face ideal, mas mesmo assim ainda devem fazer alguns procedimentos. Não vou nem mencionar o quanto isso é prejudicial, principalmente para os fãs, que têm aquela falsa imagem como uma meta a ser alcançada.
     E como esquecer todo o rigor da indústria, que não deixa seus idols descansarem, levando vários a visitas indesejadas ao hospital? Rigor esse que também cria competição entre os membros de uma mesma banda. Há a que canta melhor, a que dança melhor, a rapper, a face do grupo, a que atua. E, se você não se encaixar em nenhuma dessas categorias, esqueça suas chances de ser popular. Muitas vezes, isso pode levar a bullying dentro do grupo, não apenas da rejeitada, como teria sido com Hwayoung do T-Ara, mas também da mais bem-sucedida, como alguns artigos já sugeriram que acontece em outras bandas por aí, sem citar nomes.
     Lá no fundo, já sabíamos de tudo isso, mas o fato é que a entrevista de Brad abriu precedentes para discutir sobre o assunto. Claro que logo depois ele e sua agência se retrataram, como é típico da indústria do entretenimento coreana. Tudo que acontece vem seguido de uma retratação. Outra regra coreana impossível de mudar. E, sinceramente, quem ainda acredita nas declarações dessas empresas? Seria maravilhoso se mais idols revelassem os podres da indústria do entretenimento, mas infelizmente parece que a história se resumirá a Brad que, talvez tenha cometido tal pecado de falar a verdade sobre o cenário musical coreano, simplesmente por ser estrangeiro. 

2 comentários:

Lucas disse...

Busker Busker é bom demais! Conheci eles durante minha curiosidade de querer saber o que fazia sucesso na Coreia do Sul, musicalmente falando, aí sempre ouvia falar de Busker Busker viver no top 10 de lá. Sem arrependimento, viciei na hora nas músicas, ouvi o segundo álbum diversas vezes durante os dias que se seguiram, coisa que raramente faço.

Não acompanhei eles no SUPERSTARK, mas quando soube que eles participaram, de início achei que eles tinham ganhado, mas ao mesmo senti senti um estranhamento pq eles são "diferentes", aí descobri que perderam. Curto Ulala Session (lembro de ter curtido bastante o debut), mas pra mim Busker Busker tinha que ter ganhado.

Lari lun disse...

Uma pergunta:o porque da política anti-namoro?

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